Em seu horizonte agroecológico, Seagri prevê R$ 17,3 milhões de investimentos em tecnologia social adaptada e apropriada para práticas agrícolas sustentáveis
Reportagem publicada na revista Globo Rural de março, com base em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontou maior interesse dos Brasileiros por alimentos orgânicos. O estudo “constatou que 36% [dos entrevistados] estavam dispostos a pagar mais caro pelos produtos orgânicos. Outros 30% optariam pelos orgânicos se o preço fosse o mesmo”. O levantamento ainda verifica que 57% teriam o mesmo comportamento diante de produtos ambientalmente corretos. “O estado de Sergipe segue essa tendência”, diz o secretário de estado da Agricultura, André Bomfim, ao relacionar uma série de iniciativas governamentais e da organização dos produtores neste sentido.
O secretário pontua que são vários os exemplos de sucesso em todo o estado. Iniciativas de organizações dos agricultores com sistema de produção de frutas, hortaliças e grãos sem uso de agrotóxicos e adubos químicos. “Temos como exemplo a Associação dos Produtores Orgânicos da Região Agreste (Aspoagre), concentrada em Itabaiana; a Rede Agroecológica Plantar para a Vida com produtores de vários municípios – inclusive nesse período de quarentena, estão fazendo entrega em domicílio; os produtores de arroz agroecológico do Baixo São Francisco organizados pela Cáritas e pelo Movimento de Pequenos agricultores; além das diversas casas de sementes crioulas organizadas pelos agricultores a agricultoras familiares dos assentamentos e povoados em todo o estado”, exemplifica André Bomfim.
De acordo com André, sensível à tendência de consumo de alimentos saudáveis e do uso sustentável dos recursos naturais, o Governo de Sergipe tem implantado medidas de apoio à produção agroecológica. Há, inclusive, uma legislação de fomento à produção de produtos de base agroecológica – o Decreto de Agroecologia de nº 40.051/2018, assinado pelo governador Belivaldo Chagas. “Em 2019 avançamos, e colocamos em prática algumas medidas, como a aquisição e distribuição de 30 toneladas de sementes crioulas no programa de distribuição de sementes, atendendo demanda dos agricultores. Também no passado, por meio do Projeto Dom Távora, foram investidos R$ 257.231,82 na implantação de unidades produtivas de arroz e quintais agroecológicos, na capacitação em agroecologia e na implementação de campos de multiplicação de sementes de arroz para 17 famílias. Este investimento resultou na colheita, agora no início de 2020, de 150 toneladas de arroz de transição agroecológica nos 17 hectares plantados na última safra”, analisa o secretário.
Agroecologia para 2020
Segundo informações da Secretaria de Estado da Agricultura, o horizonte agroecológico do Governo de Sergipe para 2020 aponta para investimentos de R$ 17,3 milhões em tecnologia social adaptada e apropriada para práticas agrícolas sustentáveis. “Nossa preocupação será garantir iniciativas adaptadas e apropriadas à realidade da agricultura familiar sergipana. Quando falamos de tecnologias adaptadas e apropriadas, nos referimos à preocupação de reconhecer na realidade da agricultura, a sua condição minifundista e de implantação de lavouras diversificadas, com a conservação de sementes crioulas e a necessidade de beneficiar a produção agrícola com instrumentos de comercialização. Enfim, com toda e qualquer iniciativa que, antes de tudo, tenha sido validada e reconhecida como útil e funcional pelos próprios agricultores e agricultoras”, explica André Bomfim.
Ele detalha que, para 2020, está prevista a implementação de 16 Casas Comunitárias de Sementes (CCS), num investimento de mais de R$ 300 mil, fruto de emenda parlamentar do deputado João Daniel, que darão vazão a uma prática que já foi mais comum entre os agricultores e agricultoras. Pressionados pela modernização da agricultura, eles deixaram de fazê-lo, favorecendo a erosão genética de diversas variedades de milho, feijão entre outras espécies. “As CCSs trazem consigo uma proposta de autonomia, de preservação da cultura e memória, além de uma ressignificação do alimento da pequena agricultura sergipana. Nas casas de sementes estão previstas condições estruturais que vão desde a obra civil, como também de equipamentos que auxiliam na conservação das sementes. Porém, o mais importante é o método de guarda e preservação das sementes, que poderá ser ampliado com a cooperação das organizações sociais e dos diversos guardiões que ajudaram a batizar em nosso estado, as sementes crioulas como sementes da liberdade”, afirma o secretário de Estado da Agricultura.
A agricultora e assentada da reforma agrária no município Poço Verde, Gilmara Farias, diz que seu município é um dos que implantou casas de sementes em algumas comunidades e, com o apoio do Governo Estadual, por meio do Projeto Dom Távora, conseguiu um trator para preparar a terra. “Iniciamos esta semana o preparo do solo para o plantio das sementes crioulas, com milho e feijão consorciado e o trator adquirido pelo projeto Dom Távora. Mesmo trabalhando num ritmo menor na roça e em casa, estamos produzindo alimentos saudáveis”, comenta Gilmara.
O secretário André Bomfim relembra, ainda, que a articulação da Secretaria da Agricultura com a bancada de parlamentares sergipanos, garantiu para Sergipe um valor de R$ 17 milhões em emendas, para aquisição de equipamentos. “Com esta oportunidade, queremos dar a chance para que a organização social dos pequenos agricultores e agricultoras possam apresentar suas alternativas para viabilizar a comercialização, o beneficiamento e o manejo da produção, através de equipamentos disponíveis no mercado e que já são do conhecimento dos agricultores e agricultoras”, concluiu o gestor.
Texto e fotos: Ednilson Barbosa Santos