A poucos dias do segundo turno, que acontece em 30 de outubro próximo, o candidato petista ao governo do estado falou com o jornal Correio de Sergipe (CS) sobre sua estratégia de campanha para chegar à cadeira de chefe do Poder Executivo estadual. Rogério Carvalho elencou o que reserva para a economia, saúde e educação do estado, caso vença essas eleições, e também rebateu críticas à sua aliança com Valmir de Francisquinho (PL), político que em Sergipe pede votos para Jair Bolsonaro, adversário do presidenciável Lula (PT). Carvalho minimizou os comentários de que o apoio dado por Valmir soa incoerente, justificando que a formação do bloco converge num propósito comum, que é o de derrotar o candidato governista, Fábio Mitidieri (PSD). Leia conversa na íntegra:
Correio de Sergipe: Como recebe as críticas por ter se aliado ao candidato de Bolsonaro em SE? Teme que os eleitores vejam isso como contradição?
Rogério Carvalho: Muito pelo contrário! É natural que no 2º turno das eleições aqueles que se apresentaram verdadeiramente como oposição ao atual governo busquem apoios a quem se manteve na disputa e que, de fato, se coloca como oposição. Assim aconteceu com o Dr. Cláudio Geriatra, depois o PSOL, com forte apoio de Niully Campos, Henri Clay, professora Sônia Meire e do deputado estadual Iran Barbosa, e, mais recente, o apoio de Valmir de Francisquinho. Isso é natural. Para isso que existe segundo turno. Tem o candidato que representa o governo Belivaldo, que é Fábio Miditidieri, e tem quem se apresenta como oposição, que sou eu. Portanto, esse apoio recebido é embasado em pautas que nos colocam como oposição, no desejo de um governo que trabalhe para melhorar a vida das pessoas, porque Sergipe quer mudança nos rumos do governo e quem representa isso é a nossa candidatura, que é a oposição.
CS: O senhor recebeu apoio da direita e esquerda. Como convergir essas ideologias?
RC: No atual momento que vivemos, com um cenário de paralisia e abandono que Sergipe, nosso principal objetivo é resgatar a dignidade do povo e mudar essa realidade de miséria, fome, desemprego, desinvestimentos e estagnação econômica. Portanto, quem se coloca neste momento como nossos apoiadores, são aqueles que, assim como eu, fazem parte da oposição ao governador Belivaldo e que não querem ver a sua continuidade, representada pelo candidato Fábio Mitidieri. Esses apoios representam todos que estão indignados e inconformados com o que fizeram com Sergipe e que desejam, realmente, dar um novo rumo para o estado.
CS: O TSE decidiu pela reversão da inelegibilidade de Talysson, filho de Valmir, e a informação preliminar é de que o mesmo ocorra com o ex-prefeito. Como vê essa decisão neste momento de campanha?
RC: Decisões da Justiça são para serem respeitadas, não questionadas. Não cabe a nós questionar sobre o entendimento da nossa Justiça sobre tais decisões.
CS: Valmir disse que apresentaria ao senhor uma carta compromisso em troca de seu apoio. O que ela diz?
RC: Valmir nos apresentou pontos que consideramos como primordiais para a transformação de Sergipe, incluindo resolver a questão de todos os matadouros de animais espalhados pelo estado; melhorar a estrutura dos mercados públicos para beneficiar principalmente os marchantes; honrar o piso salarial dos enfermeiros; pagar a periculosidade aos policiais civis e militares, devolver os 14% que foram descontados dos aposentados do estado; atender às reivindicações da Polícia Penal e melhorar a situação dos professores da rede estadual. São temas que já se alinham diretamente com tudo que planejamos e que, portanto, não há qualquer objeção de nossa parte.
CS: E quanto ao comentário de Mitidieri sobre essa aliança significar um grande acordão?
RC: Esse é um argumento interessante, porque é a primeira vez na histórica política de Sergipe que vejo alguém falar em acordão de oposição. Veja bem, acordão de quem? Acordão, até onde todos sabem, era quando a elite sergipana se juntava para se manter no poder. Pensando por esse lado, acordão é o que eles apresentam, porque é um ajuntamento de interesses para garantir a permanência. Nós não estamos no poder, somos oposição. O candidato de Belivaldo Chagas usou um termo que cabe mais a ele do que a nós. Não somos do governo e não fizemos conluio para ficar no poder. O que acontece é que Fábio Mitidieri sempre teve em suas eleições uma postura muito imperativa, além de recursos próprios, alianças pautadas em cima de acordos financeiros, entre outras coisas. Mas dessa vez não conseguiu submeter um candidato a sua força econômica para trabalhar para ele como empregado político, por isso toda essa falácia de menino mimado.
CS: Como está a estratégia neste segundo turno?
RC: Conseguimos chegar no segundo turno consolidando nossa posição de oposição. São dois candidatos: o da continuidade do governo Belivaldo e o que representa a mudança. Nós vamos ter apoio e unidade para derrotar a mesmice do governo Belivaldo e a tentativa de continuação do seu candidato. O povo de Sergipe me escolheu por ser oposição do governo. Sou oposição a este governo e vamos trabalhar com muita clareza de quem quer mudança. Quem não concorda com o atual governo, está ao nosso lado.
CS: O senhor sempre menciona que Sergipe quer mudança, quais?
RC: Estamos passando por um processo de 7 anos de paralisia econômica e precisamos retomar nossa economia. Esse momento requer a importância da retomada da Petrobrás, porque empobreceu o nosso estado. O projeto da carnalita foi interrompido. Não temos implantação de agroindústria e não temos iniciativas concretas. Temos a 5ª pior distribuição de riqueza do país. Estamos com a nossa economia paralisada. Sergipe, que já foi o maior gerador de empregos, é hoje o terceiro estado com maior índice de desemprego do país e o 5º maior em desigualdade social. Portanto, temos um desafio enorme desenvolvimento econômico, com o Banese colocando o estado para voltar a desenvolver. Sergipe perdeu sua maior massa salarial, comprometendo o comércio, a área de serviços e um conjunto de cadeias produtivas importantes. Temos que levar agroindústria e crédito rural para o interior. Precisamos valorizar as vocações produtivas de cada região, ampliar a capacidade produtiva e gerar emprego e renda ao final dos 4 anos de governo. Portanto, é necessário focar na agricultura do pequeno ao grande produtor e ter um olhar especial para indústria de petróleo e gás. O Banese precisa ser um banco de fomento para as micro e pequenas empresas.
Temos pessoas há anos na fila aguardando por uma cirurgia em nosso estado. Nos primeiros seis meses, quem têm responsabilidade com a saúde, precisa zerar as filas. Saúde em Sergipe teve investimentos nos governos de Déda. Implantamos mais de 100 clínicas de saúde, Samu, feitos na nossa gestão. Todos os hospitais foram padronizados e construídos com a gente. Se tirar tudo que fizemos, junto com Marcelo Déda, o sistema cai. Criamos 102 clínicas de saúde da família, 8 hospitais regionais, 15 unidades intermediárias de saúde, centros de especialidades odontológicas, CAPS e farmácias populares. Para darmos continuidade, temos que retomar o atendimento de qualidade com Centros Diagnósticos Terapêuticos, acoplados aos hospitais regionais para serem resolutivos. Precisamos transformar a maternidade de Capela em hospital regional. Isso diminui a demanda do Huse.
Precisamos fazer um padrão de qualidade em todas as escolas, porque direito a integral é universal. É preciso modernizar, ter internet e mudar a forma de aplicar o ensino e inserir tecnologia, com um sistema articulado e reconstruir a carreira com o professor. Temos um compromisso assinado com os profissionais. Os estudantes terão passe livre, porque isso diminui a evasão escolar. Precisamos acabar com os contratos e formatar um único padrão de ensino em todas as escolas
Também investiremos em tecnologia para saber onde os delitos ocorrem e os tipos de crimes para planejar a atuação das polícias, pois precisamos trabalhar com prevenção e ter investigações capazes de elucidar os crimes. Precisamos trabalhar a segurança pública como um conjunto de ações. Segurança pública precisa ser debatida com toda a sociedade para reduzir a vulnerabilidade das pessoas. Foi nos governos do PT que os policiais mudaram de classe social. A valorização da categoria é um compromisso que assumo. Quero ser governador para mudar a vida do sergipano, dobrar a renda do povo sergipano. Temos realização e legitimidade para chegar aqui. Junto com Lula, vamos transformar Sergipe.
CS: Outra menção que o senhor costuma fazer é que a economia está paralisada, por quê?
RC: Não é um pensamento meu. É, infelizmente, a realidade dos fatos. Basta olhar os índices econômicos, de desemprego, o retorno de Sergipe ao Mapa da Fome, com 48% da população vivendo com menos de R$ 500/mês e com isso o estado ocupa a 5ª colocação no ranking nacional. Isso tudo é reflexo da falta de políticas públicas para quem realmente precisa. Falta amor, cuidado e um olhar atento às causas importantes.
Nossa prioridade é trabalhar diuturnamente para fomentar o desenvolvimento econômico do estado. Como? O desenvolvimento de SE passa por um alinhamento com uma política nacional de reinvestimento na atividade de petróleo, gás e mineração. Podemos ter quase dez vezes o montante do que já produzimos no pico de produção. Isso será possível em parceria com o presidente Lula, que trará investimentos públicos para transformar a Petrobras e outras estatais, alavancando o desenvolvimento. Vamos mudar a realidade econômica do estado. Quero governador para colocar Sergipe no eixo do desenvolvimento. Nosso compromisso é com um estado desenvolvido, com os profissionais trabalhando aqui e se desenvolvendo aqui. Sergipe será um estado com uma nova realidade econômica. Temos em nosso histórico um compromisso com o povo e, por isso, vamos trazer de volta a primavera para Sergipe.
CS: O senhor e Lula caminharam por Aracaju. Por que não teve essa visita no 1º turno?
RC: Estamos vivendo um período muito difícil, com perseguições e casos de violência. Pensando exclusivamente na segurança e garantia de tranquilidade em nossos atos, a vinda do presidente ocorreu dia 13. Um dia simbólico, que já está marcado na história política de Sergipe e do Brasil. Foi emocionante ver as ruas de Aracaju sendo invadidas pelo 13 e pela onda vermelha. Tivemos uma caminhada linda, ao lado do presidente Lula, que veio nos trazer esperança de dias melhores para os sergipanos. Nos deu ainda mais certeza de que vamos vencer com a força de quem tem fé em dias melhores. Vamos juntos recuperar Sergipe, acabar com a fome e garantir um futuro melhor para o nosso estado.
Por Wilma Anjos/Correio de Sergipe