Para este ano, a meta é assistir 40 escolas, beneficiando até 800 estudantes com atividades que promovem o nivelamento na alfabetização e letramento matemático
Cartazes com abecedário, jogos de cartas ou em papel kraft, além do maior estímulo à realização de tarefas educacionais, são alguns dos recursos utilizados no Projeto Aprender, que visa impulsionar o desenvolvimento das habilidades básicas de alfabetização e letramento matemático dos alunos que apresentam alguma defasagem no aprendizado. O projeto foi implantado na rede pública estadual em 2022, pela Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc). Dez escolas implementaram o ‘Aprender’ em 2023, alcançando cerca de 200 alunos. Para este ano, a meta é assistir 40 escolas, beneficiando até 800 estudantes.
O ‘Aprender’ tem como base a metodologia ‘Teaching at the Right Level’ – que na tradução significa ‘Ensino no Nível Correto’ -, desenvolvida na Índia e experimentada em diversos países com diferentes contextos e realidades, propiciando avanços na aprendizagem dos estudantes. Em Sergipe, a iniciativa constitui-se a partir da montagem de turmas de 20 estudantes com foco na superação das perdas de aprendizagens.
O diretor do Serviço de Ensino Fundamental da Seduc, Erinaldo Alves, comenta que, em Sergipe, o projeto acontece em parceria com o Instituto Motriz, com o intuito de recompor a aprendizagem básica para alunos do 4º ao 9º ano. “Durante a pandemia, principalmente, certas habilidades não foram desenvolvidas por alguns estudantes. O projeto tem um olhar para a necessidade real do aluno que, muitas vezes, nas turmas regulares, por diversos fatores, não pode ser atendida. Outro diferencial é trabalhar com agrupamentos por nível, tornando o grupo o mais homogêneo possível para compreensão”, detalha.
Após a conclusão das 90 horas de aulas previstas para as turmas do projeto no ano passado, neste ano o ‘Aprender’ se encontra na fase diagnóstica para, em seguida, iniciar novas turmas. Nessa fase são realizadas avaliações orais e individuais por meio de conversas dos professores com os alunos, para identificar quais os conteúdos básicos de Língua Portuguesa e Matemática que o estudante apresenta dificuldade. Quando constatada a defasagem, os alunos são agrupados em turmas de acordo com a aprendizagem, independente de idade ou série. Nas aulas que, em sua maioria, acontecem no contraturno escolar, são utilizadas atividades e materiais adaptados para cada nivelamento.
Olhar para o aluno
No conjunto Fernando Collor, em Nossa Senhora do Socorro, grande Aracaju, a Escola Estadual Professor Diomedes Santos da Silva foi uma das contempladas com a iniciativa. A unidade recebe estudantes do 1º ao 7º ano, de 6 a 14 anos. No ano passado, foram atendidos alunos do 4º ao 6º ano e, neste ano, serão contemplados alunos do 4º ao 7º ano, seguindo o diagnóstico da ação.
O pedagogo Evilázio Pereira Félix explica que a abordagem dos conteúdos com os alunos assistidos pelo ‘Aprender’ partem da utilização de recursos concretos, com os quais eles se identificam, para o abstrato, com foco no raciocínio. “Por exemplo, ao trabalhar com matemática utilizo palitos de picolé ou a atividade chamada roda dos números, para que reconheçam as unidades, dezenas e centenas. Em outra atividade, colocamos os números no quadro e passamos a fazer as continhas, então sempre parte do concreto para depois vir o abstrato. O projeto é muito mão na massa”, avalia.
A professora Jaci de Araújo destaca que o ‘Aprender’ tem um olhar diferenciado para o aluno. “É um projeto muito bom, que agrega mudanças na estratégia do professor trabalhar, com métodos simples, mas que dão mais ânimo àquele aluno que requer um olhar diferenciado. Foi possível notar a diferença e a evolução desses alunos, que venceram suas dificuldades”, detalha.
Resultados efetivos
A diretora da Escola Estadual Diomedes Santos da Silva, Magna Elísia Santana, enfatiza a importância da conscientização dos pais ou responsáveis para os resultados do projeto, já que a maioria das aulas acontece no contraturno do estudante. “A partir da avaliação diagnóstica, que a coordenadora faz juntamente com os professores, a gente já sabe o grupo que vai participar, então fazemos reuniões com os pais para explicar como é o projeto, os seus objetivos e passamos a fazer o acompanhamento da frequência do aluno. Os pais também são cobrados para assumir a responsabilidade de o aluno comparecer, para que o projeto de fato dê certo”, enfatiza.
Segundo a gestora, no decorrer do projeto são realizadas três avaliações para acompanhar a evolução da aprendizagem e, ao final, os resultados alcançados são animadores, pois, além de suprir a necessidade individual dos alunos que não estavam nivelados ao ensino regular, desperta a consciência da criança ou adoslecente sobre sua capacidade de aprender e avançar. “Além do desenvolvimento linguístico e matemático, eles passam a se reconhecer como alunos, percebem que realmente não tinham aquele conhecimento, mas começaram a fluir. E isso é uma alegria”, expressa.
A estudante Darla Meireles, 11 anos, frequentou a turma do ‘Aprender’ no ano passado e conta que melhorou a leitura após o projeto. “Eu não sabia ler direito e agora estou craque”, diz. A facilidade com a leitura lhe estimulou também a gostar mais dos livros. “Hoje, quando vejo um livro, já quero ler”, revela.
Lorrany dos Santos, 10 anos, afirma que hoje se sente feliz quando chega em algum lugar e consegue ler ou calcular com facilidade. “Aprendi a ler e matemática também, que não sabia direito. A gente aprendeu com as brincadeiras, era divertido”. Para a estudante, ao reconhecer a evolução, isso a incentivou a gostar ainda mais da escola. “É bom aprender”, conclui.
Foto: Arthuro Paganini