O Monumento Natural Grota do Angico (Mona), localizado no alto sertão sergipano, entre os municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo, é um patrimônio ambiental e cultural de Sergipe. Reconhecido tanto por sua importância ecológica quanto histórica, o Mona é uma das Unidades de Conservação mais relevantes do estado, preservando não apenas a rica biodiversidade da Caatinga, mas também um capítulo marcante da história brasileira, com o fim do cangaço. A gestão do Mona Grota do Angico é realizada pelo Governo de Sergipe, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Ações Climáticas (Semac), em parceria com a comunidade local, representando um orgulho para Sergipe e para o Brasil.
Segundo a gerente de Áreas Protegidas de Florestas da Semac, a bióloga Valdelice Leite Barreto, a importância do Mona vai além de sua biodiversidade. O local é também um sítio histórico e arqueológico de grande valor cultural, sendo o cenário onde, em 1938, Virgulino Ferreira, o Lampião, sua companheira, Maria Bonita, e outros cangaceiros foram mortos. Todos os anos, no dia 28 de julho, a Missa do Cangaço atrai estudiosos, turistas e entusiastas da cultura popular para relembrar essa história e celebrar a resistência sertaneja.
A bióloga destacou que a preservação da Caatinga e a valorização do patrimônio histórico-cultural da região são os principais objetivos da unidade de conservação. “Trabalhamos com a pesquisa científica, o ecoturismo e o turismo histórico, sempre focados na preservação do bioma da Caatinga e na valorização da cultura do sertanejo”, explicou Valdelice.
Ela também enfatizou a importância da educação ambiental tanto para visitantes quanto para a comunidade local, buscando criar uma consciência coletiva sobre a relevância da preservação do meio ambiente. “O Monumento Natural tem quatro eixos principais: pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e turismo histórico. Aqui, o trabalho é tanto ambiental quanto cultural, pois a cada momento que você se aproxima mais do bioma da Caatinga acaba assimilando a cultura do sertanejo”, destacou.
Uma das parcerias mais importantes para a gestão do Mona é com os membros da comunidade local, como Maria das Dores, uma das condutoras ambientais do monumento. Moradora da comunidade Quatro Casas, Maria das Dores compartilhou como sua vida mudou após se capacitar para trabalhar na unidade. “Antes, eu não conhecia a mata, a Caatinga, não sabia o que podia ou não ser cortado. Agora, entendo a importância da preservação e compartilho esse conhecimento com os visitantes e minha família”, relatou.
Dentro do Mona, a estrutura administrativa conta com três principais instalações: a sede administrativa, onde ocorrem reuniões do conselho consultivo; um alojamento com capacidade para oito pessoas, divididas em acomodações masculinas e femininas; e um laboratório que abriga o banco de germoplasma, utilizado para a coleta e armazenamento de sementes nativas, além da produção de mudas no viveiro Caatinga Sempre Viva. Esse viveiro é essencial para a recuperação ambiental da área, funcionando como um centro de produção de mudas que são plantadas na própria unidade e em outras áreas da região.
Educação ambiental e turismo sustentável
O Mona Grota do Angico é também um exemplo de como a conservação ambiental pode andar de mãos dadas com o turismo sustentável. Além de trilhas guiadas que revelam a beleza e a complexidade da Caatinga, os visitantes têm a oportunidade de mergulhar na história do cangaço, vivenciando de perto a cultura sertaneja.
Daniel Andersen e Lucinara Grace, turistas de Balneário Camboriú (SC), ficaram encantados com a experiência no Mona. “É incrível sentir essa energia da natureza e fazer uma trilha guiada com todo o suporte necessário. A Caatinga nos surpreendeu, tanto pela história quanto pela paisagem”, disse Daniel. Lucinara, por sua vez, elogiou o trabalho de preservação e a importância da educação ambiental realizada no local.
James Cardoso, que atua como condutor e brigadista desde 2002, explicou que, em 2007, o Governo do Estado criou a Unidade de Conservação para preservar a fauna, a flora e o marco histórico da passagem de Virgulino Ferreira e seu bando. “Desde então, a gente faz essa trilha ecológica que já existia antes mesmo de o Mona ser criado, porque antes de ser Monumento Natural aqui era a fazenda Logradouro. Aqui a gente não trabalha com turismo de massa, trabalhamos com turismo ecológico, as pessoas que vêm aqui, tanto as escolas quanto as universidades, recebem orientações de como realizar a trilha de forma ecológica, preservando a natureza”, disse.
Caatinga
Com uma área de aproximadamente 2.448 hectares, o Mona foi criado em 2007 com o objetivo de proteger uma das últimas áreas de Caatinga preservada em Sergipe. O bioma, muitas vezes mal compreendido, revela uma resiliência impressionante, onde espécies endêmicas e ameaçadas encontram refúgio. Animais como o gato-do-mato-pequeno e a jaguatirica, além de aves como o jaó-do-Sul e o chorozinho-de-papo-preto, são apenas alguns exemplos da riqueza biológica que o Mona abriga.
Muitas vezes subestimada, a Caatinga é um bioma que representa a força e a resiliência do povo sertanejo. “Nosso trabalho é garantir que esse ambiente e essa cultura permaneçam vivos para as futuras gerações. O plano de manejo do Mona, que lista 143 espécies endêmicas da Caatinga, reflete o compromisso com a conservação dessa biodiversidade única”, afirmou Valdelice.
Visitação e acesso
Para aqueles que desejam visitar o Monumento Natural Grota do Angico, é necessário agendar por meio do site da Semac (https://portais.semac.se.gov.br/portalmeioambiente/#), onde são fornecidas todas as orientações de segurança. A unidade não só recebe visitantes interessados em turismo de aventura, mas também estudiosos e grupos culturais que buscam se conectar com a rica história e natureza do sertão sergipano.
O acesso ao Mona Grota do Angico pode ser feito por via terrestre ou fluvial, sendo que cada rota oferece uma experiência distinta. O acesso terrestre permite uma imersão mais profunda na biodiversidade da Caatinga, com trilhas que revelam a riqueza natural e o patrimônio histórico da região. Há também a rota fluvial, que parte do Rio São Francisco. Portanto, há três trilhas de acesso ao local onde Lampião e Maria Bonita foram mortos. Uma que sai da sede do Monumento Natural Grota do Angico em Poço Redondo, mantido pelo Governo de Sergipe; outra que sai do Cangaço Eco Parque, também em Poço Redondo; e a terceira que sai do Restaurante Ecológico Angico, em Canindé do São Francisco. Optando pela primeira alternativa, ao chegar a Poço Redondo, basta seguir as placas por mais 15 quilômetros até o Centro de Convivência do Monumento Natural da Grota do Angico, o Mona. O visitante fará, então, uma trilha de mais ou menos um quilômetro até o local da morte de Lampião. Lá há uma pedra com uma cruz e uma placa com informações sobre esse fato.
Os interessados que quiserem conhecer a Unidade de Conservação Monumento Natural Grota de Angico devem entrar em contato por meio do Portal da Semac.
Foto: Erick O’Hara