Já conhecida há mais tempo pelos agricultores irrigantes do Perímetro Irrigado Califórnia — mantido pelo Governo de Sergipe, em Canindé de São Francisco, alto sertão sergipano — a calda sulfocálcica é um defensivo agrícola de preparo caseiro eficiente em plantações de goiaba, manga, coco, limão, pinha, acerola, dentre outras. Há cerca de um ano teve início uma cooperação técnica com o vizinho Projeto Público de Irrigação Jacaré-Curituba, federal, que está preparando os técnicos agrícolas e produtores rurais para também usarem a solução de baixo custo.
A calda sulfocálcica é feita da mistura de enxofre e cal virgem em água fervente, que age como fungicida, acaricida, inseticida e também fornece os nutrientes cálcio e enxofre às plantas. Na receita do perímetro Califórnia, o custo da solução chega aos R$ 0,40 por litro. Quem ensina a fórmula e suas aplicações é o técnico agrícola Luiz Roberto Vieira, da Companhia de Desenvolvimento Regional de Sergipe (Coderse), empresa vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri).
“Fica um custo lá embaixo. Em um tambor de 200 litros de água vai pegar 10 de enxofre, que custa R$10,00 e 10 de cal, que custa R$ 70,00. Um excelente custo-benefício. Tem tripla ação com uma vantagem de ter 19% enxofre, que é adubo foliar e 6% de cálcio”, ensinou o técnico agrícola da Coderse. Em Canindé a companhia estadual administra o perímetro Califórnia, fornecendo água de irrigação e assistência técnica para 337 produtores rurais.
Cooperação técnica
O Jacaré-Curituba é administrado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Segundo o seu técnico em agropecuária e extensionista, Avelange Santos, uma cooperação técnica com o perímetro Califórnia foi criada a partir da iniciativa dos agricultores irrigantes assistidos no projeto público de irrigação federal. Eles procuraram a equipe técnica do Jacaré-Curituba para também usar a calda sulfocálcica em suas lavouras, em Canindé e Poço Redondo.
“Os produtores já tinham conhecimento, através da televisão, que ela seria útil no controle de algumas doenças nas culturas. E aí, como a gente não tinha na época a prática, com a parceria dos técnicos da Coderse podemos replicar essa atividade aqui, no Jacaré-Curituba. O mais interessante é que alguns produtores tiveram a habilidade de aprender e eles mesmos passaram a confeccionar e fazer a aplicação. Então, não se limitou apenas aos técnicos”, reforçou Avelange Santos.
O extensionista Avelange conta que sempre ocorreram parcerias frutíferas com o perímetro irrigado estadual e antes de fabricarem a calda sulfocálcica, os agricultores puderam ver de perto a sua eficiência. “Inclusive, a gente também fez intercâmbio com outros produtores do Califórnia. Levamos nossos produtores para conhecer algumas experiências que estão dando certo, para controle de pragas e doenças. E isso está sendo muito gratificante”, concluiu.
Manga
“Eles não conheciam o procedimento e o pessoal da Codevasf falou com a gerência do nosso perímetro, que autorizou que eu viesse para cá junto com eles para que eu pudesse demonstrar na prática como era o processo do uso da calda. A minha dúvida na época era se daria certo na cultura da manga, porque eu nunca tinha usado. Fizemos 400 litros e depois foi mais 800. Tudo foi aplicado em 971 pés de manga”, recordou o técnico do perímetro Califórnia, Luiz Roberto.
Laudelino Ferreira é o irrigante do Jacaré-Curituba em que primeiro experimentou a aplicação de calda sulfocálcica em suas 971 mangueiras, há cerca de um ano, e conta que já viu o resultado. “A calda é muito boa. A produção estava sendo baixa, quando passei pela primeira vez, tive renda com a produção. Para mim este ano foi bom e no próximo vai estar melhor. O custo é acessível e o benefício é incalculável”.
Um dos diferenciais para Laudelino Ferreira usar a calda sulfocálcica é a baixa toxicidade. Ele adota o não uso de agrotóxicos. “Eu não gosto de passar veneno. Prejudica a gente que passa, a natureza e também quem vai se alimentar com o fruto”, finalizou o agricultor, que a partir da ajuda dos técnicos da Codevasf e Coderse já produz o seu próprio defensivo.