A história dos tapetes de Corpus Christ em São Cristóvão se mistura com a história do povo da cidade. Já na madrugada que antecede o evento, a população se reúne para pintar as maravalhas e o sal grosso, num processo demorado e artesanal. Neste ano, a produção aconteceu na Escola Municipal Gina Franco, durante a tarde de ontem, quarta-feira (14), varando toda a madrugada. Assim que a quinta-feira (15) amanheceu, os moradores já estavam nas principais ruas do Centro Histórico fazendo o decalque no chão para iniciar o preenchimento dos tapetes. Todos os anos, este ritual se repete renovando a fé da população no Cristo Redentor.
Para o prefeito de São Cristóvão, Marcos Santana, a confecção dos tapetes tem valor histórico e simboliza a união entre os moradores. “Eu participo fazendo os tapetes desde a minha infância. Como fui coroinha, o Corpus Christ tem muito significado pra mim, e para todos da cidade que vivem este momento. É muito significativo observarmos o empenho da população em fazer dos tapetes, o caminho mais bonito para a procissão passar. Vemos que essa tradição vem passando para as novas gerações, em minha família, por exemplo, sempre procuramos cultivar fazer os tapetes e assim desde minhas filhas até meus netos, todos participam deste dia”, disse.
De acordo com a coordenadora dos tapetes, Vânia Dias Correia Fontes, este ano o trajeto foi maior e contou com mais matéria-prima. “Fizemos quase dois quilômetros de tapetes e usamos cerca de 25 mil quilos de produtos (maravalha, sal grosso, borra de café, tinta, etc). É uma iniciativa que só acontece porque contamos com o apoio do empresariado sergipano e, principalmente, com o suor do povo sancristovense que vem para as ruas se dedicar a confeccionar cada figura. Foram três meses correndo atrás de patrocínio e apoio, mas o resultado final nos enche de orgulho. O momento de fazer os tapetes significa a junção de sentimentos bons: amizade, companheirismo, amor ao próximo, catequese e união. Tudo isto junto é o que motiva com que nós não paremos de realizar nosso projeto”, enfatizou Vânia.
Para a chefe da Casa do IPHAN em São Cristóvão, Kleckstane Lucena (Kris), que também trabalhou na organização dos tapetes, este ano a mobilização da coordenadoria atingiu também os alunos das escolas públicas e particulares. “Fizemos o convite aos estudantes e notamos a presença do público jovem durante a confecção dos tapetes. Entendemos que a nossa mobilização deu resultado positivo. Enquanto apoiador desta ação, o IPHAN entende ser uma ocasião que mescla educação patrimonial e ao mesmo tempo uma grande manifestação cultural do povo sancristovense”, avaliou.
Segundo Francy Mara Souza Silva, moradora da cidade, a integração, que acontece durante a elaboração dos tapetes, mostra o real significado da comunhão. “Muitas vezes até conhecemos as pessoas de vista, mas quando estamos fazendo os tapetes vamos conversando mais, trabalhando juntos para fazermos muito bem os desenhos, o que acaba criando laços de amizade”, disse.
Visitando São Cristóvão após quatros anos, a aracajuana Marivalda Souza Leite, disse que ao ver na televisão que iria acontecer mais uma edição dos tapetes mobilizou a família para visitar a cidade. “Isto é cultura e arte. Valeu muito a pena passar aqui na cidade para ver outra vez estes tapetes. Para Manoela Leite (filha de Marivalda), que esteve pela primeira vez na feitura dos tapetes, o acontecimento foi realmente algo marcante. “Vinha há muitos anos aqui na cidade, quando era criança, mas nunca tinha presenciado os tapetes. Assim que vi que iria acontecer o evento resolvi trazer meus filhos para assistirmos esse processo de confecção. Tudo foi encantador, o clima da cidade, as ruas históricas, as fechaduras das casas. Realmente fiquei emocionada em estar aqui”.
Fé.
Antes de celebrar a missa, frei Sérgio Ancelmo esteve pelas ruas olhando o empenho das pessoas no carinho de elaborar cada tapete. “É uma forma das pessoas demonstrarem seu amor por Cristo. Esperamos que este sentimento seja fruto de algo interno e que habite dentro do coração das pessoas. A procissão de Corpus Christ é um ritual prescrito no missal romano. Então, torna-se algo de muita importância por se tratar diretamente de uma comunhão com Cristo”, explicou.
Por Jaime Neto