Gaza vive nesta segunda-feira o dia mais sangrento desde que a onda de protestos palestinos em massa começou em 30 de março. As manifestações de dezenas de milhares de moradores da Faixa—que lançaram pedras e pneus em chamas— devido a mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém, matou pelo menos 25 manifestantes e deixou centenas de feridos a bala na fronteira da Faixa de Gaza com Israel por disparos de soldados, de acordo com fontes de saúde que atuam na área. É um recorde de vítimas sem precedentes em Gaza em um único dia desde a guerra de 2014. Um porta-voz militar israelense disse que, apesar das advertências emitidas pelo Exército, mais de 35.000 palestinos estão participando dos protestos em mais de uma dúzia de pontos na cerca de separação, com bombas incendiárias e explosivos. A fronteira foi declarada zona militar fechada.
O local vive uma greve geral em que foram fechados centros oficiais e educativos, assim como os comércios. A mudança da embaixada, um gesto simbólico após os EUA mudarem sua postura de não reconhecer Jerusalém como capital de Israel até que a disputa fosse resolvida pelo acordo de paz, coincide com o 70º aniversário da criação do Estado hebreu, segundo o calendário gregoriano. A data também assinala a véspera do Dia da Nakba (desastre, em árabe), em que os palestinos relembram sete décadas de exílio e de perda de territórios.
Desde o último dia 30 de abril, a chamada Grande Marcha da Volta suscitou manifestações em massa no limite da Faixa de Gaza com Israel, que já haviam deixado 54 mortos —o último, na última sexta-feira— e centenas de feridos por disparos de soldados.
O Exército advertiu à população da área costeira, mediante folhetos escritos em árabe lançados de aviões, para não se aproximar da cerca de separação. “Planejamos um acréscimo das unidades de combate, das forças especiais, do serviços de inteligência e de unidades de franco-atiradores”, afirmou um comunicado militar.
Enquanto isso, a tensão aumenta em Jerusalém. Às 16h locais (10h em Brasília) está prevista a cerimônia oficial de abertura da embaixada, mudada de Tel Aviv por uma decisão da Casa Branca que rompeu o consenso internacional. A delegação norte-americana que participará da cerimônia está formada por Ivanka Trump, filha do mandatário norte-americano, Donald Trump, e seu marido, Jared Kushner, assessor presidencial, assim como pelo secretário de Tesouro, Steve Mnuchin, e o subsecretario de Estado, John Sullivan.
A Embaixada dos Estados Unidos abrirá suas portas de forma provisória em um escritório consular já existente localizado num distrito periférico do sul da cidade. Se localizará em plena Linha Verde, a terra de ninguém que separou a parte ocidental —onde Israel instalou sua capital depois de seu nascimento, há 70 anos— da zona com maioria de população palestina e baixo administração jordaniana—, que inclui a Cidade Velha e os locais sagrados das três religiões monoteístas.
Junto às bandeiras israelenses, centenas de bandeiras norte-americanas balançam nas ruas de Jerusalém ao lado de cartazes gigantes que dizem: “Trump fez de Israel grande novamente”.
A polícia israelense reforçou com mil agentes a área da nova embaixada. Organizações pró-palestinas convocaram para a hora da cerimônia de abertura uma concentração na nova delegação. Mas as forças de segurança temem antes de mais nada que os protestos transbordem para os postos de controle e vigilância militar situados nas fronteiras de Gaza e Cisjordânia, onde foram despachadas com urgência três brigadas de Infantaria. Várias brigadas do Exército foram dispersadas em torno da Cisjordânia e Gaza diante do previsto aumento de uma onda de protestos.
O primeiro-ministro palestino, RamiHamdallah, condenou a mudança de endereço da embaixada na véspera da Nakba. “A Nakba representa uma série de tragédias coletivas que levou à destruição de ao menos 418 populações e o deslocamento forçado de 70% de nosso povo”, assegurou ele em um comunicado oficial citado pela Agência de Notícias EFE. O secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, afirmou que a mudança diplomática de Tel Aviv representa “um infame ato hostil contra o direito internacional e contra o povo da Palestina, que coloca os Estados Unidos do lado da potencia ocupante, Israel”.
Fonte: EL PAÍS