As recentes afirmações do presidente da Fundação Zumbi dos Palmares (criada com a finalidade de defender a cultura e as manifestações afro-brasileiras) Sérgio Nascimento Camargo, repercutiram no plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe na manhã desta sexta-feira, 29, quando da realização de uma audiência pública sobre genocídio da população negra nas periferias.
Numa clara manifestação de racismo, o presidente da entidade deu declarações contrárias ao Dia da Consciência Negra e disse que “a escravidão foi boa para os negros que viveram em melhores condições no Brasil do que na África”.
Sérgio Nascimento declarou ainda à imprensa e nas redes sociais, que cantores negros como Gilberto Gil, Leci Brandão, Mano Brown e o Dj Emicida são “parasitas da raça negra no Brasil”.
Afastamento
O deputado Iran Barbosa (PT), realizador da audiência pública, afirmou que o racismo no Brasil é uma realidade.
“O que é duro é um representante do estado brasileiro assuma isso como política. Quando ele faz esse tipo de pronunciamento, tem esse tipo de postura, ele não poderia estar recebendo recurso público; é uma razão para afastamento porque no Brasil, o racismo é crime inafiançável e ele tem que responder tanto civil como criminalmente, como prática de racismo por parte de um servidor público temporário e nós precisamos buscar caminhos para coibir isso”, entende.
Iran Barbosa lembrou que em outros países, quando se faz qualquer ato que atenta contra a humanidade, a exemplo do racismo, há uma reação imediata dos instrumentos repressores do estado contra essa política.
“Esses instrumentos não devem reprimir o povo que se manifesta, mas as manifestações que atentam contra a Constituição e essa é uma atitude atentatória. Nós entendemos que tem que ter reação da sociedade, mas também dos instrumentos do estado, que são financiados pela população para proteger o direito da cidadania”, acredita.
Capitão do Mato
A representante do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Lídia Anjos, lamentou as declarações consideradas racistas, do presidente da Fundação Zumbi dos Palmares.
“Infelizmente existem lados pelo qual a pessoa se coloca e ele representa bem a figura do capitão do mato que perseguiu e que teve do lado daqueles que comandavam o poder e também não detinham poder. É de uma tristeza imensa o que a gente está vendo recorrentemente no país, a exemplo de quatro portarias do governo federal atacando a nova concepção de direitos à vida de alguns e quando agente fala do povo negro, que tem sido exterminado, a gente vê a perspectiva de uma defesa de vida de humano que é branco e que nada vai contribuir para superar as problemáticas”, acredita.
Ibope
O representante da Organização Reaja ou será Morto do Estado da Bahia, Hamilton Borges dos Santos, disse preferir não se pronunciar sobre os depoimentos do presidente da Fundação Zumbi dos Palmares, para não dar ibope.
“Quando ele faz essas falas de efeito, está querendo ibope, está querendo chamar a atenção. Ele representa aquele negro que quer ser escravo e nós queremos a liberdade e não a escravidão”, enfatiza.
Por Aldaci de Souza – Rede Alese