O papa Francisco presidiu o funeral do papa emérito Bento XVI nesta quinta-feira (5), com homilia que comparou seu antecessor a Jesus. A cerimônia teve a presença de milhares de pessoas, incluindo alguns que pediam sua santificação.
A morte de Bento XVI no sábado (31) pôs fim a uma década em que o antigo e o atual papa viveram lado a lado no Vaticano. Também foi a primeira vez em mais de 200 anos que um pontífice conduziu o funeral de seu antecessor.
A morte foi uma perda para os conservadores, que ansiavam pelo retorno a uma Igreja mais tradicional simbolizada por Bento, que chocou o mundo em 2013 ao se tornar o primeiro papa, em 600 anos, a renunciar em vez de comandar a Igreja até o fim da vida.
Ao final do funeral na Praça de São Pedro, algumas pessoas gritavam em italiano “Santo Subito!” (Faça dele um santo agora!). Foi a mesma frase usada no funeral do Papa João Paulo II em 2005, só que por um número bem maior de pessoas.
Embora três dos últimos cinco papas tenham sido santificados, apenas cerca de um terço de todos os pontífices foram canonizados nos 2 mil anos de história da Igreja.
Francisco, que passou a maior parte do culto sentado por causa de problemas no joelho, levantou-se no final enquanto o caixão de Bento estava sendo levado. Apoiando-se em uma bengala, ele o tocou enquanto inclinava a cabeça em oração silenciosa.
Aos 86 anos, Francisco, que usa cadeira de rodas mas não mostra sinais de desaceleração, com viagens planejadas para a África e Portugal nos próximos meses, é hoje um ano mais velho do que Bento XVI quando se aposentou.
O papa já deixou claro que não hesitaria em renunciar algum dia se sua saúde mental ou física o impedisse de cumprir suas funções. As autoridades do Vaticano sempre duvidaram que ele pudesse fazer isso enquanto Bento ainda estivesse vivo.
O culto começou cerca de duas horas antes, quando, ao som de sinos, 12 carregadores transportaram o caixão de madeira com o corpo de Bento XVI para fora da Basílica de São Pedro e o colocaram no chão, diante da maior igreja da cristandade.
A última vez que um papa no cargo presidiu o funeral de um antecessor foi em 1802, quando Pio XII celebrou o culto a Pio XI, cujo corpo retornou ao Vaticano depois que ele morreu em 1799 no exílio.
Na homilia que leu sentado diante do altar, Francisco usou mais de uma dúzia de referências bíblicas e escritos da Igreja nos quais parecia comparar Bento XVI a Jesus, incluindo as últimas palavras antes de morrer na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.
Durante a missa concelebrada por 125 cardeais, 200 bispos e cerca de 3,7 mil sacerdotes, Francisco falou da “sabedoria, ternura e devoção que Bento concedeu ao longo dos anos”.
Ele mencionou Bento pelo nome apenas uma vez, na última linha, dizendo: “Bento, amigo fiel do Noivo, [Jesus] que sua alegria seja completa ao ouvir sua voz, agora e sempre!”
Clérigos de todo o mundo, chefes de Estado e milhares de fiéis compareceram à cerimônia enquanto o sol surgia lentamente pela névoa.
Mais de mil seguranças italianos foram convocados para ajudar a proteger o evento, e o espaço aéreo ao redor da pequena Santa Sé foi fechado durante o dia. A Itália determinou que as bandeiras em todo o país fossem hasteadas a meio-mastro.
A polícia italiana disse que cerca de 50 mil pessoas estavam na praça.
Após a cerimônia fúnebre, o caixão foi levado novamente para dentro da basílica, a fim de ser envolto em zinco antes de ser selado em um segundo caixão de madeira.
A seu pedido, o corpo de Bento XVI será enterrado nas grutas subterrâneas do Vaticano, no nicho onde o papa João XXIII e depois João Paulo II foram sepultados antes de seus restos mortais serem transferidos para outros locais na basílica.
Agência Brasil, via Reuters