As igrejas dos homens pretos eram de arquitetura e construídas com materiais mais simples e em localização periférica do centro nobre da cidade, explica professor da Universidade Tiradentes Ivan Rêgo Aragão
Dentre os diversos prédios históricos localizados em São Cristóvão, uma das igrejas tombadas como patrimônio histórico está localizada na rua Coronel Erondino Prado. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi fundada em 1746 e é uma das muitas igrejas construídas por irmandades de negros devotos de Nossa Senhora do Rosário.
De acordo com Ivan Rêgo Aragão, professor tutor virtual do curso de História EaD da Universidade Tiradentes, no período em que o Brasil foi colônia do Impero Português, as igrejas construídas em território nacional eram dividas em Irmandades e Confrarias pela cor da pele: brancos, pardos e negros. As igrejas de homens brancos ficavam na parte nobre da cidade e eram arquitetônicas e decorativamente mais luxuosas, visto que, eram usados materiais caros. Já as igrejas dos homens pretos eram de arquitetura e construídas com materiais mais simples e em localização periférica do centro nobre da cidade.
“Se os negros alforriados ou não, eram proibidos de exercer sua fé vinda de África publicamente pelo colonizador europeu, branco e católico. As irmandades e igrejas de pretos, foram espaços criados para os homens de cor muitos recém livres exercerem e praticarem os seus ritos, ainda que católicos ou sincréticos. A Igreja do Rosário dos Pretos em São Cristóvão foi um desses espaços”, explica.
A simplicidade da sua arquitetura, certamente, é um reflexo das limitações económicas da irmandade. Ela é constituída de nave única e capela‐mor, com corredor lateral e sacristia do lado da Epístola. A existência de tribunas e portas do lado do Evangelho indica que estava prevista a construção deste outro corredor, não executado. Internamente, a igreja é desprovida de elementos decorativos, sendo de grande simplicidade o tratamento das tribunas, do púlpito e da grade do coro. Os dois altares laterais ao arco‐cruzeiro, assim como o altar‐mor, têm concepção e execução muito toscas.
Estes podem ser enquadrados entre os retábulos executados por artesãos que tinham por referência a produção neoclássica da Bahia, segundo observou Germain Bazin ao estudar os altares sergipanos pertinentes a este repertório formal. Sua fachada, bastante simples, tem o corpo delimitado por cunhais e cimalha, contendo uma porta central e três janelas do coro, todas com cercadura em argamassa. Este corpo é coroado por frontão definido por volutas e tem uma única torre do lado da Epístola. Esta torre, certamente, teve a porção superior, acima da cimalha, edificada posteriormente, o que fica evidente pelas formas empregadas na superposição de três volumes: um prisma, um hexágono e um cilindro.
Nossa Senhora do Rosário era uma figura de importância para os escravos e negros libertos do Brasil. Ainda hoje, igrejas de negros podem ser encontradas em todo o país. Essas igrejas desenvolveram-se de maneira distinta daquelas dedicadas à população branca. A construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Cristóvão data do auge da exploração da cana-de-açúcar na capitania de Sergipe, um período no qual um grande número de escravos foram levados para a região para trabalhar nas fazendas de engenho.
“A Igreja de Nossa Senhora dos Pretos de São Cristóvão teve a construção patrocinada pela Irmandade dos Homens Pretos do Rosário. Foi iniciada em 1746, época em que desenvolvimento açucareiro fazia afluir para a região grande número de escravos negros. Sempre foi um espaço para realização das manifestações culturais religiosas como a Taieira e a Chegança. Ainda hoje, mantêm a função de culto religioso e é dessa igreja que dá início a Procissão de Fogaréus na Semana Santa”, reitera o professor.
Assessoria de Imprensa | Unit