O medo da Europa sofrer novas ondas epidêmicas de coronavírus pode atingir o esporte de maneira ainda mais devastadora. A Organização Mundial da Saúde (OMS) mediou uma teleconferência reservada com a Uefa, a entidade que organiza o futebol europeu, e os principais clubes do continente para debater o futuro do calendário em meio à pandemia. Para a entidade subordinada às Nações Unidas o cenário ideal era de que as competições internacionais fossem suspensas até o final de 2021.
A medida pode soar esdrúxula, afinal seria uma paralisação de mais de um ano e meio sem bola rolando. Mas PLACAR conversou com um ouvinte da reunião, realizada na última quinta-feira 16, que confirmou: a OMS falava sério. A conferência, que deveria ter a duração de apenas uma hora, se estendeu por duas horas e meia, em tom acalorado. A medida drástica foi aventada após a apresentação de dois epidemiologistas da entidade mundial de saúde.
A partir de um estudo sobre os riscos de novas ondas de contágio no ano que vem, a dupla mostrou os cenários prováveis e ponderou que a melhor solução seria manter a paralisação das competições até o final do ano que vem – vale ressaltar que a Organização Mundial da Saúde não tem ingerência sobre o calendário esportivo e a Uefa não é obrigada acatar a sugestão.
Após a exposição dos médicos, a reunião se tornou uma longa discussão entre a Uefa e os clubes participantes. Afinal, como sobreviver financeiramente por tanto tempo sem atividade? A consultoria KPMG estimou o prejuízo das cinco maiores ligas do continente em 4,1 bilhões de euros (algo como 22 bilhões de reais) caso os jogos que restam da atual temporada não sejam realizados. Caso mais jogos ou competições sejam cancelados, o colapso seria inevitável.
Organizar as partidas sem a presença de torcedores é uma hipótese que não é totalmente aceita pelos clubes. Isso porque, além do prejuízo na arrecadação, ainda haveria o risco de contágio entre os jogadores e as delegações. Sobre a questão de realizar partidas com portões abertos, um dirigente de um gigante da Europa fez um importante questionamento: em caso de contágio em um jogo com a presença de público, a equipe mandante estaria sujeita a alguma punição? O cartola calculou que nem todo o patrimônio do time seria suficiente para pagar as indenizações, o que poderia levá-lo à falência.
Trata-se de um dilema sobre a escolha do cenário menos danoso, pois todas as alternativas causarão algum tipo de perda. A drástica paralisação até o final de 2021 poderia causar o rompimento de contratos de patrocínio. O médico de outro clube questionou a OMS sobre o que fazer caso algum membro do clube for infectado. A preocupação seria sobre o tempo necessário para recuperar um atleta de alto rendimento caso ele contraia a Covid-19.
Ao final da primeira reunião, não se alcançou consenso algum. A Uefa prevê outras reuniões virtuais para debater o tema. Recentemente, a confederação europeia de futebol disse pretender encerrar a atual temporada no dia 29 de agosto, com a realização final da Liga dos Campeões após o encerramento dos grandes campeonatos nacionais do continente.
Diante dos microfones, o presidente da Uefa Aleksander Ceferin diz que gostaria do retorno do futebol o mais breve possível, de modo a cumprir o novo calendário proposto. Nesta segunda-feira 20, o cartola afirmou em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera que as ligas europeias devem se preparar para realizar as partidas com portões fechados. “Acredito que existam opções que nos permitam recomeçar os campeonatos e concluí-los. Devemos voltar sem espectadores, porque o mais importante é jogar os jogos”, afirmou Ceferin.
A Organização Mundial da Saúde está organizando reuniões sigilosas via teleconferência para debater os próximos passos com diversas entidades, incluindo as esportivas. Outros encontros estão marcados para tentar encontrar a melhor solução possível para as ligas e os clubes.
No domingo 19, a Europa ultrapassou o número de 100.000 mortes em razão da Covid-19. O continente também registrou mais de um milhão de casos confirmados. Itália, Espanha, França e Inglaterra, quatro nações cujas ligas de futebol estão entre as mais fortes do mundo, são os países mais afetados de acordo com a universidade americana Johns Hopkins.
Fonte: VEJA