Presidente da Câmara quebra silêncio adotado desde a queda de Moro, diz que prioridade do país é combater o coronavírus e joga responsabilidade para o STF
A crise política aberta em torno do governo do presidente Jair Bolsonaro depois da demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, está gerando situações um pouco confusas para os mais antigos militantes bolsonaristas.
Enquanto parte deles passou a demonizar Moro depois do rompimento e vem reafirmando o apoio a Bolsonaro nas redes sociais, dois aliados de primeira hora – o Movimento Brasil Livre (MBL) e a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) – pediram formalmente nesta segunda-feira, 27, o impeachment do presidente.
Joice disse que “Bolsonaro não tem mais condições de governar”. “Na verdade, ele nunca teve”, disse a deputada que foi líder desse mesmo governo no Congresso durante quase todo o primeiro ano da gestão.
Já o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) disse que o presidente “cometeu crimes de responsabilidade, além de estelionato eleitoral ao prometer o combate à corrupção e uma política econômica liberal”.
Com os dois, chegaram a 31 o número de pedidos de impeachment de Bolsonaro apresentados à Câmara, superando os 29 protocolados contra o então presidente Fernando Collor, que acabou de fato sendo cassado – mas está bem longe da ex-presidente Dilma Rousseff, também cassada, que teve 68.
Nenhum desses pedidos de impeachment, no entanto, deve prosperar tão cedo. E a garantia de que isso não ocorrerá veio exatamente daquele que o bolsonarismo elegeu como o seu principal vilão nas ruas e nas redes sociais: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem cabe acolher pedidos de afastamento do presidente. Impulsionadas com a ajuda de robôs, hashtags como #ForaMaia, #MaiaInimigoDoBrasil e #MaiaTemQueCair se espalharam com força pelo Twitter nos últimos dias. O próprio Bolsonaro alimentou isso ao dizer que o presidente da Câmara estava tentando tomar o seu lugar.
Mas Maia, que estava em silêncio desde a queda de Moro na sexta-feira 23, esfriou a discussão sobre impeachment em uma entrevista coletiva nesta segunda-feira. “Em alguns momentos, é bom o silêncio. A sociedade, no silêncio, entende melhor que nos conflitos, apesar de que eu não sou um político de conflitos”, disse, para justificar o sumiço.
Ele disse que andou “refletindo nos últimos dias sobre qual deve ser o papel do Parlamento nese momento” e que concluiu que a hora é de priorizar o combate ao coronavírus, cuja pandemia ainda está em estágio inicial, segundo ele, e cujas consequências na área econômica e social estão sendo e serão muito duras para a população.
Ele disse entender a movimentação de parlamentares no sentido de pedir o impeachment ou a abertura de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) para investigar as acusações de Moro sobre interferência de Bolsonaro em questões da Polícia Federal ou a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à pandemia do coronavírus.
“São homens públicos que têm muita credibilidade na sociedade e suas saídas geraram e continuam gerando muito pressão da sociedade, muitas críticas ao governo”, disse. Mas ressalvou. “Todos esses processos, como impeachment e CPI, precisam ser pensados e refletidos com muito cuidado. O papel da Câmara dos Deputados nesse momento e nos próximos dias deve ser debater o de forma específica a questão do enfrentamento ao coronavirus”.
Segundo ele, é hora de o Congresso não perder o foco. “Acho que a gente precisa ter paciência, precisa ouvir mais do que falar (…). Acho que nosso papel é ter paciência, ter equilíbrio”, disse.
Segundo ele, a saída de Moro é uma “crise do Poder Executivo e achamos que lá ela deve ficar”. “O que não podemos é fazer que o Parlamento seja mais um instrumento gerador de crise e de incertezas nesse momento”.
Fonte: VEJA