Por Wilhelm Valente*
A entrevista concedida recentemente pelo governador Fábio Mitidieri (PSD), ao ser questionado sobre uma eventual candidatura da prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), à sucessão estadual em 2026, vai muito além de uma simples resposta institucional. A fala do governador, embora revestida de cordialidade e respeito democrático, revela uma sofisticada arquitetura de precaução política e sinalização estratégica.
De forma explícita, Mitidieri afirmou: “Emília tem todo o direito de pleitear uma candidatura ao governo, a disputa é democrática. Não escolhemos adversários.” Mas, ao que parece, o governador não apenas escolheu o adversário — ele já começou a enfrentá-lo.
Emília Corrêa é, hoje, uma das poucas figuras públicas do estado que reúne capilaridade eleitoral, credibilidade popular e discurso próprio. Sua trajetória pautada pela coerência entre o discurso e a práxis política, sua conexão com o eleitorado conservador e seu estilo direto a tornam uma candidata com altíssimo potencial de mobilização.
A estratégia de Mitidieri em redirecionar o foco para o vice-prefeito Ricardo Marques, elogiando-o como “seu eleitor” e prometendo parcerias futuras com um eventual governo de Ricardo, soa como um convite disfarçado à renúncia de Emília. É um movimento clássico de dividir para neutralizar, que visa desidratá-la politicamente ainda no plano das especulações.
Mas por que tanta sutileza e cautela com uma candidatura que sequer foi oficializada?
A resposta está no histórico recente da política sergipana.
Fábio Mitidieri foi o terceiro colocado no primeiro turno das eleições de 2022. Só chegou ao segundo turno graças à confirmação da inelegibilidade de Valmir de Francisquinho, seu maior adversário político até então. O que significa que não foi a força eleitoral de Fábio que o levou ao segundo turno, mas sim a ausência de um concorrente mais robusto e apto a disputar a eleição. Isso é um dado político incontornável — e também explica o motivo pelo qual o governador parece inquieto diante da possibilidade de Emília Corrêa surgir como protagonista da próxima disputa.
Com Valmir fora do jogo, em razão da contestada inelegibilidade, Emília Corrêa é hoje a única liderança com musculatura real para enfrentar — e vencer — o projeto de continuidade do atual governo. E isso, goste-se ou não de sua linha política, ninguém pode negar.
A fala de Fábio, portanto, não é um gesto de grandeza institucional, mas sim um movimento de xadrez. Ele tenta manter a imagem de governante democrático e conciliador, ao mesmo tempo em que semeia divisões e mede forças com quem já demonstra reunir condições concretas de polarizar a disputa estadual.
Ao elogiar Ricardo Marques e sinalizar facilidades em um eventual governo liderado por ele, o governador acena a uma parte da base adversária. É como se dissesse: “Comigo, há diálogo. Com Emília, o confronto é inevitável.”
Essa tentativa de suavização da oposição e de antecipação dos cenários é legítima do ponto de vista político, mas também revela uma verdade incômoda para os governistas: o governo teme uma disputa com Emília Corrêa porque, diferente de 2022, não haverá tapetão. E com ela no páreo, a vitória está longe de ser certa.
*Wilhelm Valente é Advogado