O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou oficialmente, nesta segunda-feira (29), o presidente Nicolás Maduro vencedor das eleições de domingo. O resultado não foi reconhecido pela oposição e foi questionado por vários países.
“Os venezuelanos expressaram sua vontade absoluta ao eleger Nicolás Maduro Moros como presidente da República Bolivariana da Venezuela para o período 2025-2031”, disse o presidente da autoridade eleitoral, Elvis Amoroso, que é ligado ao chavismo.
Na madrugada desta segunda, o CNE, órgão federal controlado pela ditadura, apontou vitória de Maduro com 51% dos votos, contra 44% do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. Nos últimos meses, pesquisas de opinião apontavam que o favorito na corrida eleitoral era o diplomata de 74 anos, que substituiu a líder da oposição, María Corina Machado, impedida de concorrer pelo regime chavista.
Levantamentos de boca de urna sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 70% de apoio, contra apenas 30% do presidente bolivariano.
O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, sem a publicação das atas das zonas eleitorais — relatórios que reúnem informações de cada centro eleitoral.
Resultados contestados
Uma série de países questionou o resultado apresentado pelo CNE. Nesta segunda-feira, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, manifestou “grave preocupação” com a possibilidade de os números oficiais não representarem a realidade, pedindo apuração “justa e transparente”.
“Os Estados Unidos têm sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade nem os votos do povo venezuelano e pedem que as autoridades eleitorais publiquem uma relação detalhada dos votos”, afirmou Blinken.
O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou que reconhece a vitória da oposição. Milei pediu que o presidente Maduro deixe a Presidência da República.
“Ditador Maduro, fora! Os venezuelanos decidiram acabar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados apontam uma vitória acachapante da oposição e o mundo espera o reconhecimento desta derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte. A Argentina não vai reconhecer outra fraude e espera que as Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular desta vez”, afirmou Milei.
O líder do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de centro-direita, por sua vez, também rejeitou a vitória governista.
“Não se pode reconhecer um triunfo se não se confia na forma e nos mecanismos utilizados para chegar a ele”, escreveu o uruguaio nas redes sociais.
Além dos presidentes da Argentina e do Uruguai, governos de esquerda da América Latina optaram pela cautela sobre os resultados. O Itamaraty afirmou nesta segunda-feira que evitou referendar a vitória do atual presidente, Nicolás Maduro, anunciada na madrugada desta segunda-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral e questionada pela oposição.
No comunicado, o governo brasileiro diz que é preciso observar o princípio da soberania popular “por meio da verificação imparcial dos resultados” e que aguarda, “nesse contexto”, a publicação do órgão eleitoral venezuelano de dados desagregados por mesa de votação. Segundo a nota, esse é um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
Gabriel Boric, do Chile, afirmou que “os resultados são difíceis de acreditar”, enquanto o chanceler Luis Gilberto Murillo, da Colômbia, que é presidida por Gustavo Petro, também de esquerda, exigiu “contagem total dos votos”.
“O regime de Maduro deve compreender que os resultados são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e especialmente o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigem total transparência das atas e do processo”, escreveu Boric nas redes sociais. “Do Chile não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável”, concluiu.
Os governos do Peru, Costa Rica e Guatemala também demonstraram cautela quanto ao resultado. O chanceler peruano, Javier González-Olaechea, afirmou que convocará o embaixador do país na Venezuela para consultas diante do “grave anúncio oficial das autoridades eleitorais venezuelanas”.
Na Guatemala, o mandatário, Bernardo Arévalo, disse ter recebido a vitória de Maduro “com muitas dúvidas”. A mesma linha foi seguida pela Costa Rica. O presidente, Rodrigo Chaves, considerou a vitória “fraudulenta”.
Na Europa, o governo da Espanha, por meio do ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, pediu que o processo sofra averiguação externa. “Queremos total transparência e pedimos a publicação das atas mesa por mesa. Queremos que se garanta transparência. A chave é essa publicação de dados, mesa por mesa, para que sejam verificáveis”, disse.
Panelaços
Moradores de várias cidades da Venezuela protestaram com panelaços contra a reeleição de Nicolás Maduro, na manhã desta segunda-feira (29).
Em Caracas, um dos pontos de contestação foi o bairro de Petare, outrora bastião do regime chavista. Os venezuelanos bateram panelas por mais de 20 minutos.
Na madrugada de hoje, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE), que é comandado por um aliado do presidente, divulgou que Maduro recebeu 51,2% dos votos, enquanto o principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44%.
Cerca de 80% dos votos haviam sido computados quando o órgão anunciou a reeleição do governo.
A contabilidade oficial registra uma vantagem para Maduro de 704.000 votos.
A última atualização divulgada pelo órgão oficial aconteceu na madrugada de segunda. O site do CNE, no entanto, saiu do ar no meio da apuração.
Esse resultado difere das pesquisas de opinião publicadas nos dias anteriores à votação, que indicavam favoritismo do candidato da oposição, Edmundo González.
O grupo, que é liderado por María Corina Machado, não reconhece o resultado do pleito e afirma que González venceu a disputa.
De acordo com a oposição, González teria obtido 70% dos votos.
“A Venezuela tem um novo presidente eleito, e é Edmundo González”, afirmou María Corina.
Fonte: VEJA