Exames analisam presença de substâncias e quantidades ingeridas pela vítima a fim de fornecer informações científicas para a investigação
Em um cenário de morte, há diversos pontos que precisam ser analisados antes de que a causa do óbito seja atestada pela Polícia Científica. Dentre esses aspectos, está a análise de materiais biológicos para verificar se houve ou não a ingestão de alguma substância que pode ter levado a vítima a óbito. Esses exames são feitos pelo Laboratório de Toxicologia Forense que, em Sergipe, é vinculado ao Instituto de Análises e Pesquisas Forenses (IAPF).
A perita do IAPF Maria Carolina Brito destacou que a toxicologia forense é uma ciência multidisciplinar, que abrange diversas áreas do conhecimento, como química, farmacologia e física. “A toxicologia forense é a aplicada na resolução de crimes, podendo ser tanto em pessoas vivas, quanto após a morte. O objetivo é identificar e quantificar as substâncias encontradas nos materiais biológicos presentes no corpo da vítima”, explicou.
Nesse processo, o perito criminal Ricardo Leal ressaltou a relevância da Toxicologia Forense no âmbito da identificação da presença de substâncias e de como elas podem ter contribuído para a morte de uma pessoa. “O papel da toxicologia é identificar uma grande quantidade de substâncias que pode ser droga, álcool, medicamentos ou veneno e, se possível e se for necessário, quantificar essas substâncias”, acrescentou.
Conforme a perita Maria Carolina, os materiais biológicos presentes no corpo humano e que podem ser analisados nos exames de toxicologia forense são sangue, urina, humor vítreo – substância presente no globo ocular -, por exemplo. “Então, tudo que pode ser encontrado no corpo de uma vítima pode ser analisado para chegar a um resultado. E também outras substâncias como medicamentos, seringas, alimentos e bebidas”, revelou.
Os materiais a serem coletados para os exames de toxicologia forense podem ser coletados tanto no Instituto Médico Legal (IML), quanto no Local de Crime. “O médico legista do IML faz a necropsia e avalia a necessidade de coleta de material biológico para análise em laboratório. Já o perito de local de crime e consegue coletar alguns vestígios presentes em copos e alimentos”, especificou a perita.
Ainda segundo Maria Carolina Brito, com as análises feitas pela área da Toxicologia Forense, a Polícia Científica consegue indicar a substância que levou à morte. “No caso de um corpo que foi encontrado sem sinais de violência, a gente consegue identificar se houve uso de medicamento, overdose de álcool ou de drogas, ou até mesmo um veneno. Então, conseguimos dar uma resposta a algo que não é visível”, relatou.
Acidentes de Trânsito
Dentre as análises feitas pela Toxicologia Forense, estão aquelas que envolvem a apuração de acidentes de trânsito com morte, conforme exemplificou o perito Ricardo Leal. “A gente tem grandes quantidades de álcool no material biológico das vítimas de acidente de trânsito e só conseguimos identificar e quantificar esse álcool no sangue porque temos o Laboratório de Toxicologia Forense que tem esse papel”, destacou.
Ainda de acordo com Ricardo Leal, sem a atuação da Toxicologia Forense não seria possível atestar a presença de álcool ou drogas no contexto de um acidente de trânsito fatal. “Na verdade, há muitos casos importantes onde a Toxicologia Forense pode contribuir de forma decisiva para elucidação de alguns crimes aqui no estado de Sergipe, como é o caso dos acidentes de trânsito”, acrescentou.
Casos decisivos
Dentre os casos em que a Toxicologia Forense atuou para identificar a causa da morte, está o da adolescente de 16 anos que veio a óbito na Barra dos Coqueiros, no período do Carnaval de 2023. “Ela fazia uso de cocaína e de álcool. A cocaína, como é uma substância tóxica para o sistema cardiovascular, pode provocar a morte a depender do contexto, quando associada com o álcool, por exemplo”, revelou Ricardo Leal.
Ainda conforme o perito, outro caso analisado pela Toxicologia Forense também identificou a presença da cocaína no contexto de morte. “Não havia sinais de violência. Quando analisamos o sangue da vítima, havia uma concentração de mais de mil nanogramas por ml de cocaína no sangue, o que já caracteriza uma sobredosagem que começa a provocar uma intoxicação aguda”, narrou.
Ricardo Leal concluiu citando ainda que a Toxicologia Forense também contribui para a elucidação de uma morte mesmo que não haja um cenário de crime. “A Toxicologia Forense pode ser decisiva na elucidação de um crime ou no sentido de excluir um ato criminoso, podendo inclusive inocentar uma pessoa e não imputá-la a um crime. O trabalho é para identificar a substância e dizer se a quantidade foi capaz de provocar a morte”, finalizou.
Foto: Jorge Henrique/SSP