As estradas de comunidades rurais no Alto Sertão sergipano estão movimentadas esta semana, graças a passagem de 44 caminhões-pipa, que visa ajudar moradores de sete municípios a minimizar os efeitos da seca
As estradas de comunidades rurais no Alto Sertão sergipano estão movimentadas esta semana, graças a passagem de 44 caminhões-pipa, da operação do Governo do Estado, que visa ajudar moradores da região a minimizar os efeitos da seca. São 160.000 pessoas beneficiadas com água potável por meio de um trabalho diário e investimento mensal de R$ 418.000. Atualmente, os municípios de Poço Redondo, Canindé do São Francisco, Porto da Folha, Gararu, Monte Alegre, Nossa Senhora da Glória e Carira são abastecidos.
Um dos beneficiados é o agricultor Pedro Alexandre da Silva, morador do povoado Morro Vermelho, em Poço Redondo. Sem uma gota de água em sua propriedade, devido aos efeitos da seca e a à falta de chuva na região, o produtor rural viu a cisterna da sua casa ser completamente abastecida de água potável trazida por um dos caminhões-pipa enviados pelo Governo de Sergipe.
“Essa água chega em boa hora. Se não fosse essa iniciativa, não teríamos condições de ter acesso a água, pois temos pouco dinheiro e a carrada custa R$ 100. Essa água usamos para consumo humano e para os bichos beberem, pois a situação aqui está ruim. A seca está vindo cada vez pior e tudo está se acabando. O gado está magro e não quer mais comer a palma, que está murcha demais. Por isso fico feliz com a água que chega. Esse trabalho que o governo está fazendo é bom e agora os vizinhos podem abastecer-se também”, declarou Pedro Alexandre.
A agricultora Cleonice da Silva, que vive no assentamento Paraíso II, também em Poço Redondo, conta que fica alegre ao ver o caminhão-pipa chegando em sua propriedade. “Agradeço muito por essa água e queria que viesse mais. Se tivéssemos que comprar, pagaríamos muito caro. De modo que essa ação do governo é uma ajuda a mais e proporciona que possamos abastecer os animais”, disse. O marido dela, Djenal de Barros, acredita que a atual seca é a pior de todas e comenta que há seis anos não há chuva significativa na região. “Estamos na pior. A chuva, quando cai, é muito pouca. Se não fosse a ajuda do governo, seria ruim demais”.
Poço Redondo é um dos municípios sergipanos que decretou situação de emergência, critério de atendimento adotado pelo Governo de Sergipe para identificar localidades que necessitam de abastecimento de água. A informação é do coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Erivaldo Mendes, que também explica que outro quesito utilizado é a análise das comunidades que não têm acesso a abastecimento por parte da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) e só recebem água da chuva ou por meio de caminhões-pipa.
“Nós ofertamos água de acordo com a quantidade de pessoas que nos é informada pelos municípios e vistoriamos para confirmar os dados. Oferecemos 20 litros de água por dia e por pessoa. De modo que, se uma família tem cinco pessoas, ela tem direito a 100 litros por dia. Essa água é colocada em uma cisterna escolhida pela Defesa Civil e as pessoas que moram próximo vão pegar sua cota de água. Ou seja, não entregamos de casa em casa. Esse tipo de atendimento só quem faz é o sistema de distribuição da Deso. O nosso é um método coletivo, assim como o Exército também faz, e é um padrão internacional. Outro detalhe é que a população que recebe a água da operação é chamada difusa, pois mora na zona rural, isolada no contexto do Sertão, e não tem água encanada da Deso”, esclareceu o coronel Erivaldo Mendes, acrescentando que a operação não tem data de encerramento e será assegurada enquanto durar a estiagem.
O pipeiro Valderi Izídio de Lima conta que trabalha com isso há cinco anos e que a população do Sertão realmente está precisando da água entregue pelo governo. “Sinto-me feliz por levar água até as pessoas, mas, ao mesmo tempo, triste, pois elas estão sofrendo muito. Nos deslocamos uns 50 quilômetros para buscar água no manancial e levamos até a residência dos beneficiários. Para mim, essa operação está ajudando bastante e é muito eficaz. O Estado está de parabéns”.
Moradora do povoado Queimadas, no município de Poço Redondo, a agricultora Maria Aparecida dos Santos disse que está feliz com a entrega de água. “Ela vem em boa hora. A situação aqui está difícil e nossa única fonte agora é o governo. Agradeço e peço que sempre lembre da gente, pois o que mais precisamos aqui é de água”, destacou.
Marcos Rosendo é agente da Defesa Civil Estadual e conta que, nos 34 anos de profissão, já viu situações ruins e o Sertão atualmente vive uma das piores secas da história. “Esse trabalho dos caminhões-pipa é essencial e uma ajuda muito grande. As pessoas agradecem muito. Se não fosse a ajuda do governo, os moradores e, principalmente os animais, iriam passar muita sede. Já vimos muitos bichos mortos e alguns sem conseguir se levantar por estarem com sede e fome”, relatou.
A Operação Pipa é realizada pelo Departamento Estadual de Proteção e Defesa Civil (Depec) da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh). Na sexta, sábado e domingo passados, as comunidades atingidas pela seca receberam os tickets para distribuição de água.
Mais ações
Além da Operação Pipa Estadual, o Governo de Sergipe desenvolve outras ações para minimizar os efeitos da seca. As tratativas do Governo do Estado para implantação de um plano integrado de ações de combate à seca com foco nos sete municípios do Alto Sertão aconteceram no dia 23 de fevereiro. Na ocasião, Jackson Barreto destacou que existem 30 municípios em Sergipe em situação de emergência por conta da estiagem e que, para ajudá-los, são previstas ações de aquisição e distribuição de material forrageiro, implantação de dessalinizadores, perfuração de poços, recuperação e implantação de barragens e linhas de crédito emergenciais.
De acordo com o secretário de Estado da Agricultura, Esmeraldo Leal, foi criada uma Força Tarefa permanente, instaurada em 2016, para implantar ações em Sergipe. A iniciativa é formada pelas secretarias da Agricultura, Meio Ambiente, Infraestrutura, de Inclusão Social, de Recursos Hídricos, Defesa Civil, a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), e a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro).
Entre as ações desenvolvidas para combater à seca, Esmeraldo conta que a Deso, por exemplo, liberou que as prefeituras acessem gratuitamente a água potável da Companhia para distribuir para as famílias que precisam e está melhorando seu sistema de adutoras para atender às comunidades que estavam tendo problemas. A Cohidro, segundo o secretário, intensificou a perfuração e limpeza de poços, além da recuperação de barragens. Já a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), está, de acordo com Leal, implantando mais dessalinizadores.
“O Estado tem uma série de ações relacionadas ao campo e, de modo mais específico, no Semiárido, inclusive em função da situação de emergência. Primeiro foi criada uma Força Tarefa que ajudou a pensar ações concretas do governo. Chamo a atenção também para a disponibilização dos carros-pipa por parte do Estado para sete municípios com situação mais grave e que estão no limite com relação aos abastecimentos humano e animal. Nesse momento, foi essencial o Governo de Sergipe atuar, até porque o Exército, apesar de servir a esses municípios, não atende todas as comunidades e há uma reclamação com relação ao limite da água ofertada. Essa é mais uma demonstração de esforço do Estado, apesar da crise e das dificuldades, para apoiar o Sertão e ajudar a amenizar as consequências da seca”, reiterou Esmeraldo.
O secretário destaca que para buscar mais recursos, o governo está, nesse momento, em Brasília. “O Estado está provocando até outros setores, como o Banese, que já se comprometeu em apoiar a compra de ração e com créditos para apoio a cadeia produtiva, inclusive para as queijarias. O Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária de Sergipe (DER) também já se manifestou e disse que vai fazer esforço na limpeza de barragens. Ou seja, há efetivamente uma força tarefa trabalhando para amenizar a situação. O esforço é reconhecido, mas o Sertão está precisando de muito mais. É fundamental comemorar pelo que já conquistamos e continuar lutando para termos outras conquistas e diminuir o impacto da seca”.
Ainda com relação a implementação de mais ações em Sergipe, no dia 09 de março, o vice-governador Belivaldo Chagas reuniu-se com secretário especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), José Ricardo Roseno, e representantes de órgãos estaduais do setor e tratou sobre o recebimento de investimentos em áreas prioritárias da Agricultura Familiar e para o semiárido. A ideia é que Sergipe receba mais apoio na assistência técnica rural, incremente a regularização fundiária, amplie a comercialização de produtos agrícolas, auxilie a mulher do meio rural para que seja empreendedora e, por fim, promova maior atuação do projeto Dom Helder, programa de ações referenciais de combate à pobreza e apoio ao desenvolvimento rural sustentável no semiárido.
Fonte: ASN