O poder cada vez maior do presidente da China, Xi Jinping, testa a determinação até mesmo de investidores mais comprometidos com o país. Aqueles que partiram deixaram um rastro impressionante de US$ 447 bilhões em perdas um dia depois de Xi romper liderança coletiva da China, o que exacerbou temores sobre o futuro modelo de crescimento do país.
Gestores financeiros internacionais estão “frustrados e zangados”, de acordo com o Bank of America.
“Obviamente, as perspectivas não são boas para investimentos na China em vista das mudanças políticas”, disse Mark Mobius, cofundador da Mobius Capital Partners. “Dada a postura política chinesa e a reação dos EUA, só podemos esperar tensões elevadas e, possivelmente, sanções adicionais na arena de tecnologia. Sem mencionar outras barreiras comerciais.”
A sangria do mercado na segunda-feira expôs o impacto das estratégias de Xi que buscam exercer maior controle estatal sobre os mercados e a economia, ao mesmo tempo em que apostam na política covid zero em desacordo com o resto do mundo. Se não ficou clara após uma década de governo sua mensagem de crescimento administrado para um bem comum definido pelo Estado agora não enfrenta oposição, dizem investidores, com tecnocratas pró-crescimento fora das principais posições de liderança. Traders levaram isso a sério.
O desempenho do índice MSCI China neste mês é o pior desde 2000 em relação aos indicadores globais. Fundos estrangeiros retiraram um recorde de US$ 2,5 bilhões do mercado acionário da China continental na segunda-feira, enquanto o yuan onshore caiu para o nível mais baixo desde a crise financeira.
Embora os índices acionários tenham recuperado algum terreno nesta terça-feira, investidores permaneceram cautelosos sobre quaisquer oportunidades de compra, devido aos poucos catalisadores positivos.
“Muitas notícias ruins foram incorporadas, e a correção do mercado é claramente exagerada, mas ainda estamos buscando um ponto de inflexão que não está claro por enquanto”, disse Xiadong Bao, gestor de fundos da Edmond de Rothschild Asset Management, em Paris.
Não era para ser assim. As expectativas eram altas para o congresso do Partido Comunista no início deste mês e que ocorre duas vezes a cada década. Investidores estavam otimistas de que a resolução do terceiro mandato de Xi resultaria em uma flexibilização de algumas das políticas hostis que desagradaram os mercados. No entanto, ficaram chocados com a falta de medidas de apoio aos setores imobiliário ou de tecnologia em crise, um novo compromisso em relação à política covid zero e a falta de direção sobre como estimular a economia. Essa lacuna aumenta os riscos de uma maior dissociação entre o governo de Pequim e o Ocidente, o que pode afastar investidores globais e seu dinheiro.
Mesmo para fãs como Minyue Liu, especialista em investimentos da Grande China e ações asiáticas do BNP Paribas Asset Management, que vê valor no mercado chinês, há preocupações.
“Devido às volatilidades atuais do mercado, reduzimos o risco no nível do portfólio, saindo de posições mais fracas com caminho mais longo e incerto para realizar a tese de investimento e diminuímos o dimensionamento de nomes que possam estar sujeitos a maior risco geopolítico”, disse a gestora.
Com as perdas da segunda-feira, investidores estrangeiros estão a caminho de se tornarem vendedores líquidos de ações chinesas pela primeira vez este ano desde que o programa de conexão de ações foi lançado em 2014. Em Hong Kong, o índice Hang Seng China Enterprises caiu 7,3%, na maior queda desde 2008. O yuan offshore também recuou para o nível mais fraco desde que começou a ser negociado em 2010.
“Com os preços em forte queda, há muito valor, mas, obviamente, nós, como todo mundo, vamos esperar para ver se as políticas se tornam ainda mais estatais”, disse Hugh Young, presidente regional da abrdn.