Passados 78 anos da fatídica emboscada, a celebração é realizada na Grota do Anjico, onde hoje existe unidade de conservação ambiental gerida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Em 28 de julho de 1938, Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, e parte de seu bando foram dizimados no sertão sergipano, mais precisamente na Grota do Angico. No local, hoje existe o Monumento Natural Grota do Angico – unidade de conservação gerida pelo Governo de Sergipe, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) -, nos limites dos municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco, numa área de chão pedregoso e cercada por catingueiras.
Passados 78 anos da fatídica emboscada – capitaneada por tropas alagoanas -, familiares de Lampião, em nome de seus netos: Djair Ferreira, Gleuse Ferreira, Isa Ferreira e Vera Ferreira, e admiradores do “Rei do Cangaço”, realizaram na manhã desta quinta-feira, 28, com o apoio logístico do governo a 19ª Missa do Cangaço, solenidade eucarística que acontece na Grota do Angico, onde hoje existe um memorial com duas cruzes fincadas em rochas, demarcando o local exato em que os corpos dos cangaceiros foram encontrados.
A missa já entrou para o calendário ecoturístico e cultural do Estado e visa celebrar e preservar as indissociáveis memórias de Lampião e do Cangaço. Para o secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), que participou do evento, a celebração une, num mesmo bojo, a fomentação para a preservação da história do cangaço e para a conservação do bioma caatinga.
“A importância de a gente estar nesta unidade de preservação do estado de Sergipe, é que, além de falarmos de meio ambiente, da importância da caatinga, da natureza, estamos falando de cultura, da história do Nordeste, do cangaço. É um momento ímpar e nos sentimos honrados em estarmos aqui. A Semarh contribui com a unidade de conservação, onde coincidentemente está a grota e também viemos para trazer o apoio logístico, porque é uma tradição da família de Lampião, de seus netos, que mantêm essa missa por conta de seu falecimento”.
Nostalgia
A missa, celebrada pelo padre Cláudio, pároco de Poço Redondo, foi rodeada por uma atmosfera nostálgica. Quem participa, é remetido, involuntariamente, ao dia do massacre. Nos poucos momentos de silêncio, naquele local envolto a ribanceiras, cercado por veredas, chão pedregoso e coberta por catingueiras e macambiras, ouve-se, ao fundo do cenário quase inóspito, o canto triste de uma ave tipicamente da região: a Zabelê. Talvez, o choro permanente em reverência ao destemido devoto de Padre Cícero.
“É a manutenção da história, é um esclarecimento para que as pessoas procurem conhecer, ler e se inteirar sobre o que realmente é o cangaço. Espero que a missa nunca acabe. Quando eu parar, espero que as minhas três sobrinhas continuem com essa história e as pessoas também assumam, porque eu não faço sozinha, eu tenho apoio das pessoas e que essas pessoas se unam e continuem a manter viva”, disse a neta de Lampião, Vera Ferreira.
Este ano, a Sociedade Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, do município de Itabaiana, a convite do secretário Olivier, participou do evento durante todo o dia, deixando a celebração ainda mais encantadora.
Encenação
A missa foi interrompida, por alguns instantes, pelo famigerado Grupo de Teatro e Xaxado na Pisada de Lampião, que existe há 19 anos. Vestidos de cangaceiros, eles chegaram sorrateiros ribanceira abaixo, acordando a caatinga com o estampido do bacamarte, promovendo excitação do público – formado por pesquisadores, historiadores e turistas de várias partes. Na ocasião, o grupo encenou o momento em que Lampião e seu bando foram atocaiados pelas tropas alagoanas, só que, desta vez, ao contrário: foram os ‘cangaceiros’ que surpreenderam a todos.
No meio do altar improvisado, eles recitaram poesias ao estilo “repente”, saudando o Rei do Cangaço, a força dos nordestinos e a vida sofrida do sertanejo, além de exaltar um estilo musical que pode ser traduzido como trilha sonora da caatinga: o Xaxado.
“Simulamos uma emboscada ao contrário, isto é, ao invés de bradarmos: ‘tem cangaceiro na grota’, falamos ‘tem macaco’ (apelido dado aos policiais da Volante) na grota’. Na verdade, o que aconteceu com Lampião e seu grupo foi uma chacina, todo mundo sabe. Foi um dedo duro quem entregou ele”, diz o ator e líder da companhia teatral, Beto Patriota.
Morte de Lampião
O bando de Lampião acampou na fazenda Angicos, Sertão de Sergipe, no dia 27 de julho de 1938. A área era considerada por Virgulino como de extrema segurança, longe das vistas das forças policiais. Mas na manhã do dia seguinte, os cangaceiros foram vítimas de uma emboscada, organizada por soldados do estado vizinho, Alagoas, sob a batuta do tenente João Bezerra. Mas o êxito dos soldados se dá porque o bando de Lampião foi traído. De acordo com pesquisadores, o combate durou somente 10 minutos.
Grota do Angico
O Monumento Natural Grota do Angico foi criado pelo Governo do Estado há nove anos. Desde a sua criação, a unidade é administrada pela Semarh e recebe visitantes de várias partes do Brasil e do exterior, para a realização de estudos e pesquisas científicas. Além de abrigar o local da história do Cangaço, representa a única unidade de conservação estadual do bioma caatinga.
Fonte: Agência Sergipe de Noticias